sexta-feira, 18 de maio de 2012

Falando de Mulher para Mulher

Não à submissão!

Submissão... Eis uma palavra que por si só me dá arrepios. Depois de tantas conquistas que o sexo feminino alcançou, ainda persistem demasiadas mulheres que se rebaixam e diminuem perante os seus maridos, namorados, pais, ou até no trabalho.
Fico especialmente chocada quando essas mulheres são da minha idade. Confesso que me custa a compreender como é que pessoas informadas, independentes, conseguem viver sempre em função de alguém. Não penso que se trate de egoísmo da minha parte, apenas sentido de justiça.
A tristeza invade-me de cada vez que sou confrontada com relatos de uma amiga que deixa de viver a sua própria vida para abraçar as decisões do marido. Claro que quando decidimos viver uma vida a dois, debaixo do mesmo tecto, há muitas concessões que temos que fazer, sob pena da nossa existência se tornar um verdadeiro inferno. Mas não é dessas pequenas cedências que falo.
Deixar que a nossa vida seja comandada por outra pessoa é, antes de mais, uma injustiça e indica falta de amor próprio, de auto-confiança, de vontade de viver. Por muito apaixonada que se esteja pelo outro é preciso saber abrir os olhos, ver quando o que exigem de nós está além do que é humanamente aceitável.
Chega de chantagens! Usar os filhos como arma de arremesso costuma ser uma das mais flagrantes tentativas de criar remorsos para alcançar o objectivo de dominar e, como é natural, uma das mais difíceis de contestar. Lembram constantemente o importante papel de mãe quando queremos ir a qualquer lado e a criança tem que ficar à guarda do pai, que geralmente nunca se lembra que tem um filho quando decide ir para os copos até às tantas com a malta do futebol.
Nessas alturas, em que nós mulheres queremos, por exemplo, sair com as amigas para jantar, para beber um simples e rápido café, lá vem a voz da “criatura mais abandonada à face da terra” a lembrar que fica sozinho e preocupado. Muitas vezes trata-se apenas do fantasma de podermos vir a conhecer alguém mais interessante que eles, e isso assusta-os, por isso tentam controlar o que fazemos.
Aliás, essa tentativa de controlar a nossa vida vem desde muito cedo, da altura em que vivemos com os nossos pais e eles próprios nos tentam controlar. Supostamente devíamos acatar o que nos dizem, tal como o nosso namorado ou marido, e nem sequer contestar.
Para o meu pai ainda continua a soar estranho que eu saia à noite com a malta da faculdade, ou com as minha amigas de longa data e deixe o “pobre” do meu marido em casa sozinho. Isto não faz o mínimo sentido para mim, nunca fez e felizmente que em casa não tenho de me debater com esse marido que fica sozinho, porque ele respeita-me e sabe dar-me o meu espaço.
Está na altura de começar a olhar para o futuro e a fazer alguma coisa por nós próprias. Ripostar, fazer valer a nossa vontade, acabar de vez com as chantagens, com os truques. Chegou o tempo de nos impormos, ganharmos o nosso espaço, mas acima de tudo conquistar o respeito que merecemos. Não podemos esperar que alguém, sobretudo o sexo masculino, tome a iniciativa de fazer alguma coisa por nós.
Aproveitemos o dia 8 de Março para pôr em prática tudo o que já devíamos ter feito há muito para consolidar a nossa posição e defender o nosso espaço na sociedade. Recordem que ao longo dos séculos as mulheres lutaram com muito menos meios e apoio dos que hoje temos ao nosso alcance. Temos a lei do nosso lado, a sociedade está a mudar aos poucos e nós temos um papel importante nessa mudança.
Vamos recordar o dia 8 de Março de 1857, quando as operárias de uma fábrica de têxteis em Nova Iorque entraram em greve ocupando o edifício, em luta pela redução do horário de trabalho. As portas do edifício foram trancadas e 130 mulheres perderam a vida num incêndio que entretanto deflagrou na fábrica. O Dia Internacional da Mulher foi criado em 1910 precisamente para homenagear essas lutadoras. Também nós podemos prestar-lhes um tributo, lutando pelos nossos direitos, seja em casa, no trabalho, com a família ou amigos. É preciso não deixar morrer o espírito que moveu essas mulheres no século XIX. Façam a vossa parte! 
 


Jornalista Maria Leonor Vicente
Lisboa - Portugal

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