quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Operações resgatam 40 vítimas de tráfico de mulheres


Em apenas sete meses, duas operações da Polícia Federal (PF) levaram ao resgate de 40 vítimas do tráfico internacional de mulheres, entre brasileiras e estrangeiras, que eram exploradas sexualmente na Espanha. As prisões foram efetuadas pelo Cuerpo Nacional de Polícia, a polícia federal espanhola, a partir de denúncias colhidas pelo Ligue 180 Internacional, coordenado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, e repassadas pelo Ministério da Justiça ao governo daquele país.
Os dados fazem parte do balanço das duas operações, divulgados na tarde desta sexta-feira pelos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo; e das Mulheres, Eleonora Menicucci. Na primeira operação, a Palmera, realizada em Ibiza em junho de 2012, foram resgatadas 28 mulheres e outras seis nos desdobramentos que ocorreram nos meses seguintes. Na segunda, a Planeta, deflagrada na quarta-feira (30), em Salamanca, foram resgatadas seis vítimas, sendo duas brasileiras, três coreanas e uma de Serra Leoa.
A última operação foi detonada a partir da ligação de uma jovem para sua mãe, no Brasil. A vítima foi aliciada na Bahia, com a promessa de ganhar muito dinheiro para trabalhar num restaurante em Salamanca, segundo contou Cardozo. Embora ela não tenha sido clara na conversa, a mãe viu semelhanças no relato da filha com a de personagens da novela Salve Jorge, da Rede Globo, que trata do tráfico de mulheres. Ela ligou para o 180 e a PF acionou seu oficial de ligação da Espanha, que se articulou com as autoridades do país.
A intenção do governo em dar visibilidade a esses casos, segundo os dois ministros, é estimular as pessoas a denunciarem, tanto familiares como vítimas. Muitas têm constrangimento de se expor, principalmente as que viveram a experiência. "É um crime 
difícil de ser identificado e investigado", disse Cardozo. "É preciso que as pessoas não tenham vergonha de denunciar. O tráfico de seres humanos é um problema mundial, com nefastas consequências para as vítimas e suas famílias", enfatizou Eleonora.
Contato
Conforme as investigações, um casal de Salvador, preso no último dia 30, aliciava mulheres jovens e atraentes, a maioria numa academia de ginástica da cidade. Após o primeiro contato, eles faziam uma reunião de acerto final num bar pertencente aos pais - também presos - do aliciador. Os policiais chegaram a três brasileiras que exerciam funções de "encarregadas do negócio", que cuidavam dos documentos e providências materiais para a viagem. Essas recebiam 1 mil euros (R$ 2,7 mil) como remuneração por mulher traficada.
As brasileiras então recebiam passagens aéreas, 100 euros para despesas e seguiam para a Europa. Na Espanha, onde a máfia do tráfico de mulheres banca todos os custos da operação, elas já chegam devendo 4 mil euros e em muitos casos, em vez de reduzir, a dívida aumenta e, às vezes, se torna impagável. Lá, viam-se obrigadas a trabalhar como prostitutas para abater a dívida.
Programa
Conforme as investigações, elas faziam programas a 40 euros (pouco mais de R$ 100) e metade ficava com a casa. Como na novela, as vítimas ficavam trancadas em porões e sob rígida vigilância dentro das instalações da boate ou casa noturna em que trabalhavam. Frequentemente eram transferidas de uma casa a outra, para que não estabelecessem vínculos de amizade. As brasileiras resgatadas nas duas operações, porém, optaram por permanecer na Espanha, alternativa que lhes é facultada na condição de vítimas.
Em sete anos, segundo revelou Eleonora, foram feitas 3 milhões de ligações para o 180. Em 60% dos casos foram pedidos de socorro devido a agressões contra mulheres, ameaças, estupros e pressão psicológica. Em mais da metade dos casos, a agressão foi feita pelo companheiro e presenciada por filhos. Do exterior, ocorreram 80 ligações de janeiro a dezembro de 2012. Dessas, 30 foram da Espanha, 25 da Itália, 18 de Portugal e duas de El Salvador.
Do total das ligações para esse número, 5% já são relacionadas ao tráfico de pessoas e resultaram em ações policiais. "Quando essas mulheres caem na rede de aliciadores, o sonho é quebrado logo que chegam ao destino. Lá ficam confinadas em casas noturnas, onde são exploradas por quadrilhas de traficantes. Os documentos são retidos e elas ficam cada vez mais endividadas. É um sofrimento incalculável, impossível muitas vezes de ser relatado", descreveu a ministra. 

Fonte:VANNILDO MENDES - Agência Estado

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