quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Carreira e amor: dá pra ser feliz nos dois?


1- Por que não estamos conseguindo equilibrar vida profissional e pessoal?

Porque a balança de sonhos, obrigações, planos está pendendo, hoje, mais para o lado profissional do que pessoal. Tanto que numa pesquisa que coordenei, as 200 mulheres de perfil inovador selecionadas só sabiam responder sobre carreira, carreira, carreira, diante da pergunta "Qual é o seu sonho?".
No passado, as mulheres queriam sair de casa e contribuir profissionalmente para a sociedade e para elas mesmas (com a realização profissional). Agora, elas não conseguem no dia a dia sair do escritório ou outro local de trabalho e voltar para casa, cuidar um pouco do seu lar, das suas relações pessoais, de si mesmas. Nos últimos 20 anos, principalmente, avançamos muito no âmbito profissional, ocupamos o nosso espaço. Agora o grande desafio é o de reorganizar a vida pessoal. 

2-  Dê algumas dicas para esse equilíbrio acontecer. 

Em primeiro lugar, essa é uma tarefa individual. Cada à mulher tomar atitudes para melhorar a sua balança entre trabalho e vida pessoal. No meu livro MULHERES DE SUCESSO QUEREM PODER... AMAR (Editora Gente) eu discuto seis mudanças de atitude que ajudam nesse desafio atual:

2.1 largar a capa de mulher maravilha e agir como uma mulher adulta
. Ou seja, parar de achar que só ela pode fazer tudo bem-feito, reduzir a mania de perfeição, agir diante do amor como uma mulher adulta, e não uma adolescente que ainda busca o príncipe encantado sem defeitos e com um castelo de riquezas. 

2.2 Decifrar o homem de hoje. Ele também vive um período de transição e as referências de pai e avô não lhe serve mais. 

2.3 Redimensionar seus planos de vida para caber amor nela. Somos incentivadas a traçar plano de carreira, mas o ideal é traçar plano de vida, em que você coloca seus desejos profissionais e pessoais. Isso ajuda a conciliar. 

2.4. Achar tempo e energia. Esses são os principais problemas atualmente. Mas é preciso se esforçar para abrir tempo na agenda para se divertir, namorar, recarregar as energias. E tem mais: quem tem vida pessoal, tem vida amorosa e sexual, produz melhor profissionalmente. 

2.5 Cultivar o desejo.  
A vida está tão pesada para a mullher que ela pode deixar de lado sua feminilidade, sua sensualidade e suas necessidades/vontades de mulher.  Fique atenta a isso!

2.6 Criar vínculo e cumplicidade com o parceiro de modo que um também colabore com a carreira do outro. O casal deve ser parceiro, e não competir. Juntar forças, sonhos, ideias de como se pode viver melhor.

3- Como as mulheres que colocaram a vida profissional em primeiro plano e deixaram a amorosa de lado estão lidando com isso?

A palavra-chave para esta pergunta é: escolha. Fazemos escolhas o tempo inteiro. E elas implicam perdas e ganhos. Ter consciência disso é fundamental para que a gente não veja tantas mulheres que jogaram todas as fichas no emprego se sentindo frustradas porque não sobrou nada além do cartão de visitas depois que a carreira passou. 
Como jornalista, já entrevistei mulheres que escolheram focar na carreira e estão bem. Mas entrevistei e entrevisto muito mais mulheres que querem outras coisas também, como casar e ter filhos, e ficam adiando, adiando... Por medo de não conseguirem conciliar as coisas. Eu defendo que é possível conciliar. Não é fácil, mas é possível. E vale a pena encarar o desafio. Ter sucesso profissional é maravilhoso, mas não me adianta se eu não tiver companhia para tomar um vinho na sexta à noite, por exemplo. Amo minha profissão, amo também o meu marido (que é um companheirão) e amo também ser mãe. 
Fico preocupada com a ilusão criada pela medicina de que a mulher pode ser mãe a qualquer hora. Não é bem assim. E não se descongelam filhos como se descongela lasanha. Se há o desejo de ser mãe, aconselho trabalhar bastante, mas achar tempo e energia para paquerar, namorar, fertilizar, ter um filho. Muitas mulheres conseguem, por que você não conseguirá? A vida é sua, a rédea está na sua mão, e não na do seu patrão, do seu cliente exigente...

4- Você sente que as mulheres estão apenas com foco nas suas carreiras ou buscam ser empreendedoras – terem seu próprio negócio?

Entre os empreendedores, os números mostram, as mulheres são maioria. Um dos motivos é que o negócio próprio facilita a conciliação entre trabalho e vida pessoal. Mas não é só isso. As mulheres têm inteligência, garra, facilidade para comandar equipes, criatividade, capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo, empatia... Características bem-vindas aos empreendedores. É uma saída para muitas profissionais incríveis que não conseguem um mínimo de flexibilidade dentro das empresas. E aí as empresas perdem talentos por não oferecerem essa flexibilidade, por não compreenderem que precisam ajudar suas funcionárias a equilibrar trabalho e vida pessoal. Felizmente algumas empresas mais modernas estão "acordando" para essa questão. Trata-se de uma questão social, de sustentabilidade da nossa sociedade. Imagine só se a grande maioria das mulheres não tiver mais filhos porque não consegue conciliá-los com o trabalho? 

5- "Os homens têm medo de mulheres independentes". Mito ou verdade?

Verdade. Principalmente daquelas que gritam, só dão ordens, tratam os homens bem mal, como se eles fossem funcionários. Até eu tenho medo dessas... Falando sério, os homens andam reclamando que estamos muito mandonas. E fazemos isso porque gostamos de mandar e também porque temos de ser tão assertivas no trabalho para impormos respeito que temos dificuldade de fazer o corte quando entramos em casa. Além disso, há homens culturalmente mais machistas, que têm dificuldade de aceitar essa independência. Mas os mais jovens já aceitam melhor. E não tem outro jeito. Eles terão que se acostumar. Para ajudar nesse processo, podemos controlar nosso lado mandão e tratá-los como parceiros, e não de forma negativa, olhando de cima para baixo, não é?

6- Estamos cada vez mais agressivas (no sentido da personalidade) por conviver em ambientes masculinos. Como lidar com isso?

Falava disso na resposta anterior. Cabe ficarmos atentas ao nosso comportamento e buscar formas de controlar tanta agressividade (que é mais útil na carreira do que na vida pessoal). Uma vez meu marido me disse, sentado no sofá ao lado do nosso filho: "Joyce, já reparou que você está entrando em casa às 9 da noite, pisando firme e olhando para nós como se fosse passar uma matéria para escrevermos?". Ele tinha total razão. E que bom que temos abertura para que ele pudesse se expressar e puxar a minha orelha. Daí em diante, resgatei um hábito que faz meu cérebro lembrar que não estou mais na redação da revista: dou um beijo na boca dele, bem dado, e um beijo no rosto do meu filho. Outro hábito que me ajuda a controlar a agressividade é fazer acupuntura. Lá eu desabafo, reequilibro as energias, cuido da saúde física e mental. Caminhar na praia, nos fins de semana, também alivia minhas tensões. 

7 - E quando o homem ganha menos no casamento? Como lidar com isso sem ficarmos autoritárias?

Em todas as entrevistas que tenho dado, desde que lancei meu livro, essa questão aparece. Sinal de que é nesse ponto que, digamos, o “bicho pega”. Os homens ainda estão se acostumando com essa realidade, e as mulheres também. Agora, a forma como essa mulher que ganha mais encara o dinheiro é fundamental. Se ela encara o dinheiro como um fim, o relacionamento dela ficará difícil de perdurar. Se ela encara como meio de o casal realizar sonhos, planos, que não se encerram no terreno financeiro, fica mais tranquilo lidar com a situação. Na fase em que escrevia o livro, me preocupava que os holofotes virassem muito para o meu lado e meu marido se sentisse incomodado, renegado. Aí, preocupada com meu relacionamento, o incentivei a criar um site para expor seu trabalho como jornalista/economista especializado em estudos setoriais. Na época do lançamento do meu livro, abrimos um espumante para comemorar dois feitos: meu livro e o site dele. Não sou mais do que ele só porque posso em algum momento obter mais sucesso. Ele sabe disso, eu o admiro profissionalmente, e ele me admira profissionalmente.

8- Você acha que esse ritmo alucinante profissional das pessoas tende a diminuir ou não tem volta?

Vivemos em tempos de mudanças rápidas, de dinamismo, aceleração, informação em excesso, cortes e enxugamentos nas empresas em nome da competitividade, tantos estímulos digitais... Isso não mudará. Mas muitas mulheres começam a perceber que a emancipação feminina trouxe vitórias e também um mundo de cobranças e obrigações. Ou seja, ela não está causando a felicidade que se imaginava. Vamos voltar sete casas? Não. Vamos trazer o pêndulo para o meio, para o equilíbrio, assim poderemos desfrutar de vários momentos alegres que apenas o sucesso profissional não é capaz de dar para a maioria. 

9- Fale três inimigos do relacionamento. E três aliados.

Vou eleger como inimigos do relacionamento: a intolerância (briga construtiva sim, mas aquela em que os dois brigam por brigar só mina o amor), a ansiedade de desempenho no sexo (quando vira competição, os dois se sentem pressionados a dar um show) e a falta de tempo para o relacionamento (há casais que mal se encontram, e quando se encontram só falam de problemas...).
Três bons aliados: a empatia (se eu me coloco no lugar do outro, é mais fácil fazer acordos), o bom humor (casais que riem juntos ficam juntos), sexo lúdico (em que os dois se divertem, trocam carinhos, mantêm-se atraentes um ao outro). 

10- Por que as mulheres desenvolveram tanto lado mental, mas não o emocional. O homem continua sendo o centro do universo de muitas delas.

O homem ainda é o que nós, mulheres, temos, sem ser de lata e com um coração batendo. Eu gosto dos homens, tenho dois em casa. Você fala sobre as mulheres que pensam serem felizes somente depois de achar sua metade da laranja? Esse pensamento está atrasado, claro. Mesmo porque é um desafio tão grande chegar a 16 anos de casamento, como é o meu caso, que eu digo no livro: hoje, o amor é um encontro de inteiros, e não mais de metades que se complementam. Os dois precisam querer muito que o relacionamento dê certo, precisam investir tempo e energia, precisam ter a coragem e a persistência de insistir nesse amor, em vez de fugir dele e se separar tão facilmente diante do primeiro conflito. Não prego insistir num amor tóxico, mas também não desistir diante do primeiro obstáculo, achando que você aperta um botão e vem um amor pronto. Amor é construção. 

11 – A maternidade cada vez mais adiada em detrimento da carreira. Como fica a cabeça desta mulher, com tantos paradoxos? 
 
Como disse, o relógio biológico "grita". É uma escolha, e pode acontecer na paralela da carreira. Agora, se eu nunca paro de ler relatórios para ir paquerar, namorar, casar, chego aos 40 anos aflita porque preciso ser mãe a qualquer preço. E meus óvulos já não são jovens... E estou no auge da carreira... E acho que não posso realizar o sonho da maternidade porque meu chefe não quer. Isso tudo é para pirar a cabeça da mulher. Vamos agir como mulheres adultas e responsáveis pela própria vida?
A pergunta essencial é: o que eu quero? O que vai me fazer feliz? E ter coragem de bancar os próprios sonhos. Uma ótima profissional vai conseguir prosseguir na carreira, nesse emprego ou em outro, sem que a maternidade arruíne tudo. E ter um filho com um pai bacana, que você ame, do seu lado, é a melhor das opções. Eu, pelo menos, experimento isso na minha vida. Tive muita dificuldade para engravidar, quase morri próximo do parto, e meu marido estava ao meu lado, me dando força, dividindo as dores e alegrias. Sou muito grata a ele por tanta força que me dá na vida pessoal e profissional. E sei que é recíproco. 

fonte Atmosfera feminina

Joyce Moysés
 é jornalista há 25 anos, especializada em amor, sexo e carreira, também palestrante e autora do livro Mulheres de Sucesso Querem Poder... Amar (Editora Gente). Para contatá-la e ler a introdução do livro, visite o site www.joycemoyses.com.br.

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