quarta-feira, 29 de agosto de 2012

“As mulheres são boas ouvintes e boas comunicadoras”, diz Trina Gordon, CEO da Boyden

Trina Gordon é CEO e presidente da companhia derecrutamento de executivos global Boyden. Ela esteve no Brasil na última semana de junho para comemorar os bons resultados do escritório no país – que tem crescido 40% nos últimos três anos. “O Brasil não é mais uma economia emergente, já é uma potência”, disse Trina. 

Segundo Trina, o país está entre os principais mercados globais da Boyden no mundo. Entre os Brics, está apenas um pouco atrás da China em ritmo de crescimento – perde “por um pescoço”, na expressão da americana. Por aqui, o setor de óleo e gás é o principal responsável por movimentar os contratos da companhia. 

A headhunter, que em 2008 foi apontada pela Business Week uma dos 50 mais influentes no mundo, falou sobreempreendedorismo e os principais desafios das executivas no mundo dos negócios em uma entrevista na sede da companhia, em São Paulo. 

Você acredita que as mulheres podem ser estimuladas na infância a se tornarem empreendedoras?
Eu acredito que as mulheres empreendedoras podem ter uma influência desde cedo. Certamente a nossa vivência familiar e o meio têm muito a ver com quem nos tornamos quando crescemos. Quando você tem pais empreendedores, quando pelo menos um deles a encoraja a ser confiante, a tomar decisões sozinha, a correr riscos, a não ter medo, isso tudo colabora. Nos Estados Unidos, há muitas mulheres que tiveram um pai empreendedor e começaram seu próprio negócio, então acho que isso também tem uma grande influência. A paixão dos pais que tomaram decisões corajosas e correram o risco de começar um negócio é uma fonte de inspiração. 

E você acha que está crescendo o número de mulheres que tocam seus próprios negócios? 
Em alguns setores é mais comum do que em outros – em serviços e tecnologia, por exemplo. No setor de serviços, vejo muitas mulheres fazendo consultoria, com empresas na área de marketing, com publicidade criativa, em que você pode ser muito empreendedor por conta própria e desenvolver o seu negócio. Nas empresas de arquitetura, em que também está em jogo a necessidade de ter ideias criativas, também há muitas mulheres. A percepção de muitos clientes é que, se você tem um negócio boutique, com um foco bem definido, a presença feminina é muito bem-vinda. 

Você nota que as mulheres têm um jeito diferente de fazer negócios do que os homens? 
Há um grande número de estudos que falam sobre a mulher no mundo corporativo. Ela tem um instinto natural para entender os clientes e consumidores. Mulheres fazem um bom trabalho com o desenvolvimento de produtos voltados para o consumidor final. Elas entendem as necessidades específicas de diferentes tipos de consumidor, especialmente outras mulheres e os produtos que elas costumam comprar para si mesmas a para as suas famílias. As mulheres reconhecem a necessidade de dar voz ao consumidor. 

E com relação à liderança? Há diferenças entre homens e mulheres? 
Sim, absolutamente. Elas entendem bem as pessoas, por isso há muitas mulheres no nosso negócio, de recursos humanos. Eu acho que as mulheres são boas ouvintes e boas comunicadoras. Isso é de grande serventia quando nós estamos pensando no que o consumidor está interessado. Além disso, as mulheres costumam ouvir e prestar atenção aos problemas e às preocupações de seus empregados ou às pessoas que trabalham para elas. 

E os desafios para as mulheres para se tornarem boas líderes? 
Pode haver um desafio maior para as mulheres em indústrias tradicionais, em que você tem de trabalhar mais duro para quebrar uma espécie de barreira, mas isso também pode ser divertido. Quando eu entrei no negócio de recrutamento de executivos, como uma sócia júnior, havia algumas reuniões com CEOs de indústrias metalúrgicas e de aço em que eles nem olhavam para mim. Você aprende a se tornar mais confiante, mais sábia e, ainda bem, alguns conhecimentos transcendem a questão de gênero. 

Há alguma mulher inspiradora para você no mundo dos negócios? 
Há muitas mulheres inspiradoras no mundo dos negócios. Eu tive a honra de participar de uma conferência de mulheres em outubro passado em que acompanhei um painel com a chefe do departamento de marketing da IBM. Alguns dias depois do fim dessa conferência global, ela foi anunciada CEO. Foi a primeira mulher CEO de uma companhia em um setor bastante conservador. É uma pessoa com quem eu apenas convivi socialmente, durante uma conferência, mas eu fiquei tremendamente impressionada com o fato de ela ter sido empregada por toda uma vida na IBM, em uma companhia tecnológica com predominância masculina, e o antigo CEO a nomeou para ser sua sucessora [Virginia Rometty foi anunciada CEO da IBM em outubro do ano passado e assumiu o cargo em janeiro de 2012]. Ela teve uma atitude bastante humilde com relação a isso. Assumiu o comando de uma empresa bastante conservadora com grandes habilidades de liderança e compromisso com os empregados e com cada cliente da empresa. E, ao mesmo tempo, ela se mostrou muito engajada, divertida, sem aparentar ser uma pessoa egocêntrica. Esse é o tipo de líder que eu admiro, alguém que mantém a capacidade de rir de si mesmo, é íntegra e tem outras habilidades de liderança. 
Aqui no Brasil as mulheres sentem muita culpa porque, em geral, quando estão no escritório, pensam em seus filhos, e, quando estão em casa, acham que deveriam dar mais atenção ao trabalho. Você vê que isso acontece em outros países também? 
Isso acontece em todos os lugares. Há uma grande cobrança das mulheres, em todas as idades. As empresas que nós deveríamos copiar são aquelas que reconhecem a importância de termos um balanço entre a vida e o trabalho, permitindo que maridos e mulheres tenham a possibilidade de dar assistência aos seus filhos quando necessário, sem nenhum tipo de penalidade por isso. Essas também são as empresas consideradas os melhores lugares para trabalhar. Esses são os negócios em que as próximas gerações vão querer trabalhar. Os níveis de retenção são maiores, a satisfação é maior, o turnover é menor e os índices de rendimento são melhores. Com isso, as companhias conseguem se posicionar melhor nos seus respectivos mercados também. 

E quando as companhias não dão suporte a isso? 

É muito duro. Algumas pessoas escolhem sair e não fazer mais parte da organização porque não conseguem mais conciliar. Algumas mulheres também acabam deixando o mercado de trabalho por isso. 

Para você esse é o maior desafio hoje, equilibrar a vida pessoal e o trabalho? Qual você acha que é o maior desafio para as mulheres em sua carreira hoje? 
O desafio é conseguir fazer um equilíbrio de várias coisas. É garantir que você consiga criar seus filhos, colocar muita energia e paixão no seu trabalho e ainda ter tempo para família e amigos. Quando eu falo em equilíbrio, isso envolve vários aspectos da vida. Às vezes você precisa de tempo para os seus pais, às vezes para um amigo em especial e às vezes apenas para você. 

Para ser eficiente em relação a isso, o que é preciso fazer?
Às vezes é difícil prever e programar o seu dia, então é preciso ser flexível e perceber quando você precisa recuar e recarregar suas baterias. 

Executiva esteve no Brasil para comemorar o crescimento da empresa no país

fonte :Por Júlia Pitthan   Divulgação

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