Considerada a fundadora da enfermagem moderna, a britânica Florence Nightingale (foto)
revolucionou a atividade, antes relegada a um trabalho amador e sem os
devidos cuidados de higiene, o que acabava por agravar o estado dos
pacientes. Como voluntária de guerra, ela marcou a história a tal ponto que o dia de seu nascimento, 12 de maio, é comemorado mundialmente como o Dia da Enfermagem.
Até meados do século 19, início da imponente Era Vitoriana da Grã-Bretanha,
o quadro da enfermagem não era dos mais respeitáveis. Embora algumas
das cuidadoras dos pacientes nos hospitais e outras instituições de
saúde fossem das mais bem intencionadas, no geral não era bem assim. Os
cuidados médicos eram grosseiros, a higiene era quase inexistente, o
trabalho das moças era esporádico e desqualificado, além de socialmente
desvalorizado e pessimamente remunerado – quando o era. Não existiam
diretrizes básicas para a execução da atividade.
Além disso tudo, a imagem que o povo tinha das enfermeiras na época não era das mais decentes:
desleixadas, inclinadas ao alcoolismo, antiéticas, ladras (em relação
aos bens dos doentes), quase sempre ausentes e até promíscuas – a
personagem Sairey Gamp, criada por Charkles Dickens em seu célebre
romance “Martin Chuzzlewit” (1844), foi elaborada como uma feroz crítica
do escritor àquele tipo de “profissional” da saúde.
Foi justamente nesse ponto que
Nightingale revolucionou a enfermagem. Criou um sistema de treinamento e
de trabalho baseado na disciplina pessoal e profissional, dedicação,
estatísticas e hierarquia, como veremos ao longo do texto.
Berço italiano
A abastada família Nightingale residia em Florença, na Itália,
quando, em 1820, nasceu a pequena Florence, batizada em homenagem à
bela cidade. Não tardou que voltassem à Inglaterra. As meninas do clã
foram educadas, a princípio, por professoras particulares, tarefa depois
realizada pelo patriarca. Prestes a fazer 20 anos, a jovem Florence
implorou ao pai que lhe ensinasse matemática,
matéria estimulada por ele mesmo, ao invés de aprender atividades “de
mulher”, como ele pensava, como tricô ou danças. As discussões não foram
poucas, mas Lord Nightingale concordou em tutorar a filha na principal das ciências exatas.
Surgiu na jovem o interesse pelos
assuntos sociais, sobretudo na assistência em hospitais, e novamente a
família foi contra, afinal, enfermagem, ao ver deles, não era algo “para
uma moça direita”. Novamente e com muito esforço a jovem dobrou os
parentes. Conseguiu estagiar em hospitais no Egito, na Alemanha e na França, até voltar a Londres e aceitar um cargo não remunerado de superintendente em um hospital para mulheres.
Na frente de batalha
O que seria motivo para desistir fez com
que Florence começasse os estudos que culminariam no advento da
enfermagem moderna e seus métodos. Na Turquia, ela se defrontou com ausência total de higiene,
falta de recursos (uns pelo fato de o governo não mandar e outros pela
dificuldade de acesso ao front), a hostilidade dos médicos militares e
dos outros oficiais, preconceitos machistas, indisciplina por parte de
suas 38 comandadas e, sobretudo, o sempre crescente número de feridos e
doentes.

No teatro de guerra,
tornou-se famosa como “A Dama da Lanterna”, pois insistia em cuidar dos
pacientes mesmo de madrugada, com a ajuda de uma lanterna turca
dobrável de tecido engomado.
Florence, utilizando sua capacidade de
trabalho, sua determinação, bem como sua facilidade em registrar tudo o
que se passava em detalhes e pulso de liderança,
usou o mais desfavorável dos cenários como balão de ensaio. As fracas
condições de higiene dos hospitais aumentavam em seis vezes a
probabilidade de morte dos soldados doentes e feridos. Os números
aprendidos com o pai foram postos em ação, e, após muita obstinação e
insistência com os homens de armas, as taxas de mortalidade caíram de
60% para praticamente incríveis 2,2%.

Embora tenha tido êxito, contraiu febre tifoide no front, sendo obrigada a voltar para a Inglaterra.
Munida dos dados coletados na guerra, Florence mostrou à rainha Vitória, ao príncipe Albert
e ao primeiro-ministro Palmerston os resultados que levaram o governo a
criar a Comissão Real Sobre a Saúde nas Forças Armadas. Como de hábito
na história, os avanços na medicina e na tecnologia no âmbito militar se
estenderam ao meio civil. A enfermeira tornou-se a primeira mulher a
ser membro da Sociedade Estatística britânica.
Escola de enfermagem
Embora a criadora da enfermagem
propriamente dita tenha dado esse importante passo, a questão da
profissionalização só alcançou planos mais altos após as duas guerras
mundiais do século 20. Escreveu mais de 200 obras sobre saúde para o
público militar e o civil. Suas atividades inspiraram uma brasileira que viria a ser a primeira enfermeira de seu país: Ana Néri.
Florence Nightingale faleceu aos 90
anos, em 1910, tendo estabelecido as diretrizes da enfermagem moderna em
praticamente todo o planeta.
"A Enfermagem é uma arte; e para
realizá-la como arte, requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão
rigoroso, como a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é
tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo
vivo, o templo do espírito de Deus?
É uma das artes, poder-se-ia dizer, a mais bela das artes"...
É uma das artes, poder-se-ia dizer, a mais bela das artes"...
Florence Nightingale (1820-1910)
Por Marcelo Cypriano
marcelo.cypriano@arcauniversal.com
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